domingo, 20 de março de 2011

IX - FATOS PITORESCOS

Padre Padrinho

 

  O povo de Rincão dos Alves sempre se manteve fiel aos princípios religiosos com predominância ao catolicismo. Era tradicional, uma vez a cada 2 ou 3 anos, a realização de uma cerimônia de Crisma junto à Capela e depois, Igreja São João Evangelista, quando os jovens da faixa etária de 12 a 18 anos recebiam esta confirmação religiosa. Lá pelos idos de 1936, o bispo de Santa Maria chegou no Rincão para esta cerimônia religiosa e para isso o Padre José, da paróquia de Jaguari relacionava os crismandos. Ao interpelar Zeferino Machado(Neno, 15) para entrar na fila dos contemplados, respondeu-lhe: “Não tenho padrinho. Só aceito ser crismado se o Senhor for meu padrinho”. Não deu outra, o Padre José topou a parada e lá foi o Neno a tiracolo com o ministro de Deus em direção ao bispo para receber a água benta da crisma. A partir deste instante a noticia tomou conta do lugar e muita gente nem acreditava num fato que até hoje os mais antigos ainda se lembram com um sorriso malicioso. Foi um acontecimento inusitado em que o desafiante teve que cumprir sua palavra, uma vez que tinha certeza que o Pe. José recusaria sua proposta! (Fonte: Zeferino Machado, Neno)


Esta Criança Não tem Pai...?
 

  Mário Flores de Oliveira e Nair Machado de Oliveira tiveram um único filho biológico – Mário Iran de Oliveira. Todos moravam no Rincão dos Alves e se mudaram para a cidade de Jaguari em busca de ensino de melhor qualidade. Chegada a época da 1ª comunhão na escola, todos foram catequizados ao recebimento desse outro sacramento preconizado pela religião católica. No dia da celebração da missa e 1ª comunhão, Mário Flores, pai de Iran, não pode comparecer ao ato, de modo que Iran foi sozinho à frente do altar. Pe Nelson, o celebrante, ao chegar na frente do Iran, percebendo que estava sozinho, bradou em voz alta, com seu timbre agudo de voz , na frente de todos os fiéis presentes e soltou essa: “ ... essa criança não tem pai ?” Os professores e demais presentes ficaram estupefatos com a indelicadeza do ministro, mas sabiam que essa era sua marca registrada: falar alto, sem espinho na língua... dizer o que acha necessário... não importa o lugar...(Fonte: Idalina Simmi de Oliveira)

                                          Fogo no Jipe do Padre
 

Até os anos 60 o Padre da cidade de Jaguari ia rezar missa no Rincão dos Alves montado em Cavalo mantido pela própria Congregação Religiosa, devido a inexistência de veículo com robustez suficiente para enfrentar as estradas “carreteiras” da época. Com a melhoria das estradas, passaram a entrar os jipes(Jeep Willys, fabricação USA 1942)), tração nas 4 rodas e rodas de aros maiores. Desse modo, os religiosos passaram a usar o novo meio de transporte para os compromissos no interior do município. No inicio de 1964, o Padre Nelson Friedrich, hoje(2011) aos 93 anos de idade, ainda em atividade, assumiu o compromisso de rezar uma missa no Rincão dos Alves em memória de 1 ano de falecimento de Marcírio Machado. A missa havia sido encomendada pela Idalina Simmi de Oliveira, filha de Márcirio, que morava na cidade. Pediu carona ao Pe. Nelson que a levou junto sua sobrinha Neusa, e lá se foram estrada fora. Quando chegou na metade da estrada, Neusa alertou o Pe que havia uma fumaça estranha na frente do jipe. Pe Nelson, um zero à esquerda em mecânica, levantou o capô do motor e saiu uma tocha de fumaça, seguida de uma chama enorme. Olhou para o lado e percebeu que Neusa levava no braço um blusão branco, de linha, momento em que Pe. Nelson lhe disse: “Me dá este teu casaco para abafar a chama”. Neusa pensou rápido e atirou o blusão para outro lado na direção de uma sanga para evitar que sua vestimenta fosse inutilizada combatendo o fogo. Pe. Nelson usou outros meios de sufocar o incêndio e depois comentou: “A moça ficou tão nervosa que, ao invés de atirar o blusão para o meu lado, atirou na sanga”(Fonte: Neusa, sobrinha da Idalina)

                            Peripécias de um Casamento
 

Altair Sagin Machado, nascido no Rincão dos Alves, filho de Pedro Machado e Santa Saggin, na época morando em Bom Retiro, distrito de Nonoai-RS, distante a 20 Km de chão batido de terra vermelha até o centro da cidade, no dia do seu casamento enfrentou uma série de transtornos. Tudo preparado para a festa em Bom Retiro, porém chovia muito e a cerimônia religiosa seria na Igreja matriz da cidade. Altair, acompanhado de sua irmã Virginia Maria e da mãe Santa Sagin Machado, saíram de Fusca para a casa de um amigo em Nonoai para trocar roupa. No meio do percurso, devido ao lamaçal, o fusca capotou, ficando deitado e atolado, de modo que todos saíram ilesos do acidente. Poucos instantes depois passava um veículo que os socorreu. Deixaram o fusca no local, transferiram as malas com roupas do noivo para o veículo de socorro e seguiram para Nonoai. Chegando na cidade, local de destino, desembarcaram e esqueceram de descer as malas com as roupas do noivo que haviam ficado no carro que os socorreu. O veiculo saiu e ninguém sabia para onde e nem quem era seu dono. Extraviaram as malas com as roupas do nubente. Convocaram o Sr. Milton, amigo da família, para localizar o veículo desconhecido. Enquanto isso o tempo ia passando e os convidados aguardavam, ansiosos, o início da cerimônia na Igreja matriz. Um dos futuros cunhados foi avisar a noiva que Altair, o noivo, havia sofrido um acidente de automóvel e, ao receber a notícia, sem ouvir toda a ocorrência, desabou em desmaio. Depois que se recuperou do impacto, ficou sabendo que o caso não era grave e o casamento não seria interrompido. O padre, que iria celebrar a cerimônia se recolheu, inconformado com o atraso, mas realizou a cerimônia, mesmo com atraso, é claro. E para relembrar o episódio desse casamento, sua filha Mariana quando casou teve sua cerimônia de casamento requintada com cena do fusca tombado e o noivo atônito aguardando socorro.(Fonte: Virginia Maria, irmã do noivo)



Filho Extraviado
 

Lá pelos idos de 1945 Pedro Machado e família se transferiram, de “mala e cuia”, com toda a família do Rincão dos Alves para o interior de Nonoai-RS, em um caminhão com toldo onde outra família - de Manoel Viana - também era transportada para o mesmo destino. A família de Pedro era numerosa e nas paradas de descanso havia dificuldade na contagem dos filhos e ocupantes do veículo, pois viajavam embrenhados entre os móveis da mudança. Nas proximidades da cidade de Sarandi, suspeitaram da falta de um ocupante – o menino Aldemir, 7 anos. Retornaram e encontraram o dito que acabava de sair de trás de uma moita. Reintegrado à caravana, seguiram para o destino, Rio dos Indios e Bom Retiro, distrito de Nonoai onde iniciaram uma longa jornada de sucesso na plantação de soja.(Fonte: Maria Virginia,filha de Pedro Machado)


O Branqueamento da Guajuvira
 

Quem morava no interior do município de Jaguari,RS, localidade do Rincão dos Alves, lá pelos idos de 1940, tinha como alternativa de fonte de renda a extração de madeira de lei(só cerne ou alburne). Algumas espécies se destinavam à Estrada de Ferro, no auge de sua construção; outras, para mourões e tramas para cercados de pastagens, peças de mangueiras ou encerra de animais, bretes e outras finalidades. A rapazeada ajudava os pais nessa seara, mas a remuneração não retornava na forma de moeda. Por isso os jovens mantinham uma exploração paralela e clandestina visando a conseguir algum dinheiro para custear despesas de bailes e outras diversões, com possibilidade de agradar a namorada pagando um refrigerante ou um lanche. Certa vez, Zeferino Machado(Neno), recém chegado do serviço militar em 1945, juntamente com o amigo Geraldo Kerpel estavam branqueando uma guajuvira(madeira de boa qualidade), isto é, tirando a parte branca do tronco, de pouco valor comercial, deixando só no cerne, cuja parte maior da árvore estava na divisa de 2 posseiros de João Alves. Naquele instante chegava ao local o Sr. Mário Feliciani, intitulando-se dono da guajuvira. Era um período em que as terras estavam em inventário e começava uma disputa por áreas melhores. Quando a árvore foi cortada, pela sua inclinação natural, previa-se a queda em área de uso de Mário, mas ainda em propriedade de João Alves. Argumentou a posse do tronco, mesmo que os rapazes tivessem gasto muitas horas de trabalho para seu beneficiamento. A tora estava quase toda desdobrada em peças prontas para comercialização e tiveram de entregar o ouro para o bandido. Os moços já imaginavam o quanto poderiam obter com a venda do produto no Bolichão do Santo Picollo, estabelecido ao lado da Escola João Alves Machado. A alegria de Neno e Geraldo durou pouco. A madeira foi confiscada pelo Sr. Mário Feliciani, sem que ouvisse a argumentação de defesa, pois qualquer reclamação que chegasse aos ouvidos de João Alves era motivo de repreensão ao neto que se apropriava indevidamente de um bem que não era seu, nem tinha autorização para explorá-lo. Com a batalha perdida, ficou a mágoa da desconsideração e o desconforto de sofrer em silêncio a perda de um trabalho sem qualquer recompensa.(Fonte: Zeferino Machado, Neno)


Padre Amadeu – O Missionário Aloprado
 

Todo religioso que sai do seminário ou do centro de treinamento missionário é mandado para os diferentes locais para exercer a função catequista. Lá pelos anos 1935 foi designado para o Rincão dos Alves o Padre Amadeu, pertencente à ordem dos Missionários Redentoristas de Passo Fundo, o qual tinha a fama de querer mandar no destino dos seus catequizados. Tinha o hábito de fazer as reuniões separadas: Ou Só para mulheres ou só para homens. Logo na sua chegada foi solicitado a ele que fizesse um calendário das datas das visitas de missionários. – Respondeu que não era tarefa sua fazer tal programa nem divulgação. Dizia ainda que o povo não dava o devido valor a sua missão, por isso aquele povo era uma “esculhambação”. Certo dia fez uma reunião com as mulheres da localidade, a quem fez severas advertências para participar e acompanhar todas as reuniões para poder passar os ensinamentos aos filhos. Solicitou a elas que intimassem seus maridos para a reunião do dia seguinte no mesmo local junto à capela. Chegado o dia, apenas dois homens lá compareceram, quando o padre se exaltou reclamando que as mulheres não haviam transmitido a ordem a seus maridos. Mal acabou de falar, um dos homens presentes, Sr. Izaltino Machado, se levantou e respondeu. – Padre, na reunião de ontem haviam apenas seis mulheres e, 5 delas, eram viúvas! Com essa resposta o Padre murchou... resmungou e adiou o encontro.(Fonte: Zeferino Machado, Neno)


O Mestre da Régua


Em outra seção foi abordado o elenco de professores do Rincão dos Alves. Pedro Krahe não só ensinava “acolherar” as letras e praticar a aritmética como também puxava as orelhas dos bagunceiros em aula. Certa vez, assistindo a uma aula, Zeferino Machado(Neno), olhando firme para o mestre Pedro Krahe, recebeu de seu colega Nilo Kerpel, de repente, um cutucão nas costas com a ponta do lápis, instante em que deu um gritinho e se virou para trás. O Professor não gostou daquela atitude e tomou sua régua de meio metro, seção quadrada e se dirigiu ao Neno, desferindo-lhe uma reguada na cabeça, causando um profundo corte no couro cabeludo. O sangue brotou imediatamente e teve que ir para casa. Ao chegar lá, indagaram o que havia acontecido. Suas irmãs, muito boazinhas, perguntaram quem foi o autor daquela proeza e Neno respondeu – O Prof. Pedro Krahe ! As irmãs, em regozijo ao acontecido, completaram dizendo, nós vamos fazer um bolo para brindar o professor pelo seu excelente trabalho educativo. O Neno recebeu o castigo que merecia – uma reguada ! (Fonte: Zeferino Machado, Neno)


O Jerônimo e seu Caminhão


Jerônimo Snovareski morava no Passo do Salso – Rincão dos Alves – tinha um caminhão de frete e atendia as necessidades de transporte da vizinhança, porém gostava de tomar umas “cangibrinas” a ponto de ficar meio esquisito. Não somente era motorista como também entendia de mecânica, porém exercia esta função quando tinha vontade. Certa vez saiu a fazer um transporte em São Vicente do Sul, mas foi recomendado a colocar combustível só no tanque do caminhão – álcool no gogó... nem pensar. Mesmo assim Jerônimo driblava a vigilância e achava uma brecha para um golezinho. Quando ele e os ajudantes concluíram o trabalho já era noite. Estavam retornando a casa pela estrada de Mata e quando chegaram ao local denominado Santo Antonio deu uma pane no velho Internacional. Jerônimo nem pestanejou – abriu a porta do barulhento e saiu a pé, estrada a fora, enquanto seus companheiros de viagem insistiam para que levasse pelos menos seus pertences, inclusive abrigo, pasta com documentos e dinheiro. Não deu ouvido a ninguém e saiu resmungando e falando sozinho: “Não quer andar, que fique aí mesmo – não vou te adular”. Ao chegar em casa seu pai questionou seu gesto de abandonar do veículo naquele lugar deserto. No outro dia foram buscar o birrento internacional que pegou logo de primeira.(Fonte: Elni Snovareski, seu sobrinho)


O Outra do Jerônimo


Jerônimo era aficcionado no jogo de cartas, mas habilidoso, por isso quase sempre acabava ganhando as grandes paradas de apostas. Em razão disso ganhou o apelido de “Piranha”. Iniciava a jogar ainda cedo da noite e só retornava a casa a altas horas da madrugada. Certa noite, quando morava em São Vicente, exagerou no trago e perdeu o rumo da casa, passando a perambular por outras ruas. Depois de andar por vários lugares, resolveu pedir ajuda para a localização de sua casa. Perguntou a um cidadão que vinha em sua direção, porém não percebeu que era um brigadiano, já seu conhecido, se ele sabia onde morava o tal de “Piranha”. O soldado perguntou seu nome e ele respondeu: Jerônimo! O militar surpreso retrucou – mas Jerônimo é o mesmo Piranha ! – Eu sei que é, disse Jerônimo, só não sei onde ele mora!(Fonte: Elni Snovareski, seu sobrinho)


O Jerônimo no Quartel


Sua estatura ultrapassava o comprimento das camas beliches dos alojamentos da Bateria de Comando e Serviço(BCS) do 2º GA 75 Cav, de Santiago, onde serviu em 1956. Por isso quando deitava, o cobertor ficava curto e dormia de pés descobertos. Os soldados de serviço, malandros e maldosos, se divertiam em aprontar pegadinhas para o distinto. Queimavam um palito de fósforo deixando só o carvãozinho chamado mosquito mecânico. Embutiam o estilete nas rachaduras da sola do pé e acendiam com fósforo na ponta que progressivamente ia queimando. Quando a brasa atingia a sola do pé, Jerônimo soltava um urro de furioso e saía ofendendo e soltando “osso” até a 5ª geração da família do responsável. Este gesto acordava todos do alojamento, mobilizando cabo de dia, sargento de dia, resultando em punição para Jerônimo que provocava alteração e perturbava o sono dos outros.(Fonte: Bressan, contemporâneo de quartel)

                                  O Pouso do Teco Teco – Que Susto!


Teco Teco era o nome popular dado às aeronaves ou aviões de pequeno porte, monomotor, com capacidade para 2 pessoas. A população de Rincão dos Alves nunca tinha visto tal aparelho voador, a não ser voando a grandes alturas. Em meados de 1946, numa tarde de domingo, durante um Comércio de Carreiras na Cancha da Cruz, surgiu um avião monomotor piscando seus faróis, pedindo espaço para aterrisar na pista de corrida dos cavalos. Na primeira baixada e arremetida foi aquele esparramo de gente para todo lado. Poucos sabiam do acontecimento e quem não sabia tomou o rumo do mato e abrigo atrás das poucas casas que havia no local. Houve caso de mulheres, na pressa de fugir do artefato voador, que deixaram metade do vestido enroscado no arame farpado da cerca delimitadora da cancha. Os vendedores de quitutes só puderam levar um pouco do que estava exposto em suas bancas. Foi um abandono quase total do ambiente da Cancha da Cruz. Os que estão ainda vivos, quando se lembram do acontecido, soltam gargalhadas !


O Uma Prosa sem Fim


Os primos Zeferino Machado(Neno) e Nativo Machado de Oliveira quando se encontravam, travavam o cronômetro das horas. Cada qual queria contar sua façanha de imediato, chegando até se xingarem por um não deixar o outro falar. Nativo, com 4 filhos entre 5 e 14 anos, saiu do Rincão dos Alves para morar em Canoas-RS –Bairro Matias Velho, zona alagadiça em 1970. Trabalhava em serviços gerais, principalmente em serviços de segurança empresarial como vigia. Nas férias vinha à Jaguari visitar os parentes e amigos. Certa vez planejou passar 4 dias entre Santa Maria e Jaguari, Rincão dos Alves. Chegou em Santa Maria numa 4ª Feira a tarde, quando este redator manteve um curto diálogo e ficou sabendo de suas intenções de seguir para Jaguari e de lá, seguir direto à Canoas. No sábado à tarde, passando pela residência de Neno, lá ainda estava Nativo em altos papos e gestos retocando assuntos que nunca acabavam. Indagado sobre os planos da viagem, disse que resolveu cancelar a ida a Jaguari, pois faltou tempo para por a escrita em dia. Ao mesmo tempo se queixou do Neno dizendo que o impedia de expor assuntos ainda trancados na garganta. Disse que iria retornar domingo à noite para Canoas-RS, sem cumprir seu plano inicial de viagem, porque na 2ª feira deveria retomar o serviço de segurança que exercia naquela cidade. Qualquer um destes dois cidadãos, tem fama de passar noites em claro contando histórias e estórias sem se cansar, pois o fazem com prazer e alegria, além de se empolgarem com os feitos de sua época. Muitos amigos deles deixam de fazer visitas porque não dispõem de muito tempo e, para visitá-lo e dizer algumas palavras, é preciso usar um novo medidor do tempo – não mais minutos e horas, mas “dias” ou “semanas”.


A Malandragem do Cigano


A familia Hegres arrendava as terras da mãe, situadas numa ilha de um distrito de S. Vicente do Sul, a um Sr. da família Ambrós, que pagava regularmente 1/3 da produção em cada safra. Soube Ambrós, através de espiões, que as terras onde plantava ainda não tinham dono verdadeiro. Eram terras sobradas de medições da Carta Geral. Por isso formalizou um pedido judicial de Usucapião. Quando os Hegres souberam da trama, procurou um advogado que lhe disse não ter mais volta. O negócio já estava consumado, com a perda de 16 ha de área para Plantio e 2 ha de terra com mata. Ainda curtindo a desgraça de ter perdido uma área que considerava sua, apareceu na casa dos Hegres um cigano, com toda família, dizendo que sabia quem eram os mentores daquela idéia de tomar suas terras e tinha uma solução. Esta solução foi demonstrada em cima de uma mesa, usando um papel branco e sobre ele, quebrando um ovo, mostrando que aparecia o rosto de quem lhes havia prejudicado. Apresentou aos Hegres uma proposta de reverter a decisão judicial, mas tinha um custo. Como Hegres não dispunha, no momento, de moeda corrente, disse dispor de certa quantidade de soja na Cooperativa. Houve acordo de ceder 20 sacas do produto para o trabalho de reversão, ocasião em que autorizou entregar ao cigano espertalhão tal quantidade. Durante a negociação, a família do cigano se aproveitou do clima favorável a pedidos e começou a explorar os Hegres, requisitando galinha, leitão para a festinha do pequeno que já olhava com aqueles olhos redondos, além de outros produtos franqueados pela sensibilidade do patrão. Depois de alertado sobre o golpe, a ficha caiu e o cigano desapareceu.
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VIII - ARTES E TALENTOS

VIII ARTES E TALENTOS

                                               Irmãos Músicos

  O surgimento de talentos em artes, móveis, construção de artefatos deu destaque à localidade. Os músicos, os grupos de danças gauchescas, os trovadores, declamadores, os instrumentistas de gaita (ponto e piano), violão, bandonion projetou Rincão dos Alves no Cenário Regional. A arte musical iniciava com o aprendizado do manejo da gaita ponto, seguida da pianada(teclado) das marcas Somenzi, Todeschini, etc. Na cidade havia uma família Machado, sem qualquer parentesco com os Machado de Rincão dos Alves, cuja arte ia sendo passada de pai para filho. O velho Machado tinha os filhos Quim, Jurandir, José e outros que, já desde meninos saíam dedilhando os botões ou o teclado da chorona. A arte vinha de berço – já nasciam tocando. De certa forma estes músicos, mais outros de expressão nacional como Mariosan (exímio acordeonista), depois os irmãos Bertussi, inspiraram pessoas do Rincão dos Alves a seguirem a arte musical. Para alguns, esta arte não só era diversão como também fonte de renda da família pois executavam suas músicas em bailes e festas de casamento, aniversário e outros eventos festivos. Os filhos de Marcírio Machado cc. Verginia Simi, entre eles Antonio, Zeferino, João(Joanete) e Ireno se tornaram gaiteiros. Antonio , Zeferino(Neno) e Joanete tocavam em bailes da redondeza. Já Ireno seguiu profissionalmente a carreira artística, dominando o acordeon e se apresentando em rádio e em Shows no interior do Rio Grande e fora dele, conforme consta na seção: “A Trajetória de Ireno Machado”. Veja os irmãos músicos a seguir:
Zeferino Machado(Neno)    Ireno Machado                    João Machado(Joanete)

  Na família Feliciani teve destaque Álvaro de Oliveira Feliciani(Instrumentista) e seu irmão Anisio(vocal), os quais constituíram, por longo tempo, um grupo musical denominado: LEGENDA. Dispunham de um ônibus adaptado para transportar o equipamento de som, instrumentos e acomodações de repouso, podendo se deslocar a grandes distâncias. O grupo se desfez e Álvaro prosseguiu na carreira solo gravando seus CD’s e apresentando programa de sua autoria na Rádio Jaguari, sob a denominação “ À Moda Véia”. Veja abaixo, uma de suas músicas em parceira com outros compositores.
     Na poesia, na trova e no repentismo, exaltando as virtudes do seu povo e as lidas do pago, destacou-se Valdir Machado Kraetzig. Expressa o sentimento do homem do campo em prosa e verso em palavras do cotidiano, mas que brotam com naturalidade de suas reservas culturais.
     Veja, a seguir, uma de suas composições musicais, em parceria com João Damásio Catelan, musicada e interpretada por Álvaro Feliciani, no CD “Da Moda Véia”, sob o título: Recordando Meu Rincão Retrata a história da Cancha da Cruz num embalado vanerão.
            Eis a letra:
 Sábado tem Baile na Chita
  No salão da encruzilhada
  E lá na Cancha da Cruz
  Domingo tem carreirada
  O Garganta do Tio Silvio
  Pingo Bueno e bem tratado
  Vai correr quinhentos metros
  Com o Tubiano dos Machado

                          Cinquenta e cinco em cada lombo
                          O Teté corre o Tubiano
                          E quem joqueia o Garganta
                          É um mulato castelhano
                          Tem jogo e parada grande
                          Parcerias e mano a mano
                         E o juiz é o tio Mário Flores
                         Por competente e vaqueano

Vem gente de toda a parte
E muita prenda faceira
É tradição na querência
Um comércio de carreira
A Filhota e a Dimiana
Lidaram a semana inteira
Pra preparar os quitutes
No oficio de quitandeira

                        A indiada batendo a tava
                        Junta à sombra da figueira
                        Num tiro de volta e meia
                        Buscando a sorte parceira
                        De repente estoura um rolo
                        Por causa de um calaveira
                        Que andou roubando uma carta
                        Numa parada de primeira

Tudo isto aconteceu
Lá no meu velho Rincão
Churrascos de vaca gorda
Surpresas e marcação
Hoje nada mais existe
Tudo se foi campo a fora
Só a tropilha da lembrança
O tempo não leva embora

                      Mas fica de testemunha
                      O que meu verso traduz
                      As memórias do passado
                      E a saudade quem conduz
                      Na escuridão das lembranças
                      Minhas rimas buscam a luz
                      Pra cantar Rincão dos Alves
                      E a velha Cancha da Cruz”

Foto: 2010:  Álvaro Feliciani                João Damásio Catelan      Valdir Machado Kraetzig

                                          Ireno Machado - não gostava de lavoura

 

  Vocação de Ireno Machado “Ovelha não é pra mato”, diz o ditado popular. Ireno Machado, cuja trajetória está dissertada nesta publicação, nasceu para ser músico, homem de palco, de rádio, em fim, da comunicação. Quando ainda moço de 15 a 17 anos, ia para a lavoura e antes de iniciar o trabalho contemplava a natureza, se inspirava e passava a recitar versos ou cantar algumas músicas já memorizadas. Não gostava de lavrar a terra usando bois para puxar o arado. Usava cavalos, que eram mais rápidos, porém usava arado nove(9), duro, isto é, sem virar o “ferro” para inverter o sentido da verga. Tinha que lavrar em quadro, formando um anel quadrangular, sempre no mesmo sentido. Certa vez, quando foi colher a safra de linhaça, contratou Laudelino(Lau) e Edvino Gampert para ajudar na colheita, prometendo pagar pelos serviços prestados. Ireno passava cantando e fazendo versos rimados enquanto os outros trabalhavam. No final da tarefa, dinheiro ? Que nada, ficava por conta do espetáculo musical apresentado no meio da lavoura(Fonte: Laudelino(Gampert(Lau)).



Vocação de Ireno Machado


Ireno Machado, já desde menino, tinha vocação para música. Certa vez seu irmão Antonio pediu-lhe que fosse pedir emprestado um violão a um vizinho. Atendeu o pedido do irmão e se atrasou um pouco, pois em cada barranco sentava à beira da estrada e passava a dedilhar as cordas do magricelo. Quando chegou em casa, já reproduzia músicas que tinha ouvido de outros violonistas. Em outra ocasião, Ireno foi a um baile, sem qualquer instrumento, não para dançar, mas para ouvir as músicas interpretadas no fandango. Retornou à casa a cavalo, já de madrugada e deixou o cavalo no pátrio, sem desencilhar, e pegou logo sua gaita, passando a interpretar as músicas que havia memorizado durante o baile. (Fonte: Laudelino Gampert(Lau))



A Arte de Vladimir
 

  Na comunicação visual teve destaque Vladimir Feliciani Machado que começou com desenhos de Gibi e se projetou até o doutorado e mestre em Artes Visuais. Veja sua formação em “Trajetória de Vladimir” nesta publicação. A lista de destaque é enorme, apenas citamos alguns para ilustrar esta apresentação.



A Arte de Dona Gema
 

Gema Jumelli, filha de Pedro Jumelli e neta de Alfreto Jumelli, foi contratada em 1925, já com 32 anos de idade, por Marcolina Campos de Oliveira, esposa de João Alves Machado, para ministrar aulas de corte e costura às suas netas Idalina(16), Filhota(17), Joana(18) e outras. Veja a foto de 1ª Comunhão onde se vê Gema, Idalina e L. Saggin.

Foto: 1925 Gema Jumelli Idalina S. Oliveira Outra
    As aulas eram ministradas na residência de João Alves Machado, em sala separada, onde cada aluna tinha sua própria máquina de costura. De todas as alunas de Dona Gema, a única que seguiu costurando como profissional até a aposentadoria foi Idalina. As demais, apreenderam o suficiente para confeccionar roupas para uso da própria família, sem fins econômicos. Aos 39 anos Idalina mudou residência, saindo do Rincão dos Alves para a cidade de Jaguari, no sopé do obelisco, junto ao Passo do Tigre, onde seu pai Márcirio Machado de Oliveira havia adquirido uma Chácara e cultivava hortigranjeiros e vaca de leite. Idalina exercia a profissão de costureira e ajudava no sustento da família de três pessoas: Marcírio, Idalina e a sobrinha Neusa de 5 anos de idade. Dona Gema, devido à longa permanência no Rincão dos Alves se enamorou de Jorge Simmi, com quem se casou, indo morar na cidade de Jaguari, RS, sempre exercendo a profissão de modista/costureira, além de ensinar a arte da costura a grupos de meninas adolescentes, preparando-as para se tornaram bom partido no casamento.
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VII - MEIOS DE DIVERSÃO

MEIOS DE DIVERSÃO,


     As carreteadas se constituíam na só um evento de comércio, mas também uma cruzada de lazer, pois em cada parada de descanso não faltava a roda de chimarrão, o conto de causos, as cantorias, as trovas e as músicas executadas pelos próprios participantes do comboio. A gaita, o violão e o pandeiro ditavam o ritmo, sem faltar o trago, enquanto o carreteiro – o arroz, fervia na trempe. Andavam sempre juntos para dividir as tarefas e prestar socorro mutuamente. Assim era a vida dos carreteiros.


As Carreiradas


      As “carreiradas” tinham suas estrelas: os empresários (donos de cavalos), quitandeiras/Quituteiras(encarregadas dos lanches), os apostadores, corredores(jóqueis), os juízes. As brigas, os namoros e as exibições, as pacholices, as roubadas de namoro, faziam parte do cenário da grande festa. A repercussão do evento nas redondezas e nos municípios vizinhos sustentava a prosa por alguns dias. Os tratadores de cavalos, os comissários de jogos, os segredos dos tempos de cada animal, os jóqueis comprados, as marmeladas, eram ingredientes inseparáveis. Distancia percorrida – tiro curto, médio, longo, tudo isso fazia parte do Comércio de Carreiras. O palco principal deste espetáculo de patas de cavalo era a Cancha da Cruz, sinônimo de festa e muito mais, inclusive tema de música de nosso folclore gaúcho. Havia outra cancha reta na propriedade de Carlos Del Rio, entre Taquarichim e Mata, apresentando um requinte adicional: Durante o dia - Carreirada. À noite, Festa dos comissários, donos de cavalos, visitantes, em farra com bebedeira, chinaredo e carteado. As mulheres daqueles que lá ficavam à noite se vestiam de quituteiras ou lancheiras para não largar o pé dos maridos. Era fiscalização 24 horas por dia. Contam que Virginia Simmi tinha Idalina(7) com febre alta e largou tudo para vigiar o velho Marcírio que lá se encontrava. Levava quitutes e lanches só para despistar os espiões noturnos.


Lazer e suas Modalidades

      Quando as ondas de rádio não havia chegado ainda às casas do interior, as famílias tinham como diversão imediata a visita noturna aos parentes ou vizinho para contar causos, tomar chimarrão, jogar carta, ouvir música executada pelo dono da casa. Em fins de semana, alguns moradores tinham o hábito de reunir os filhos, embarcar numa carreta ou carroça com toldo e passar 2 ou 3 dias na casa de parentes ou amigos quando moravam longe. Aos domingos, quando havia carreiras, geralmente em cancha reta, a maioria se concentrava nas suas proximidades, não só para apreciar a disparada dos esbeltos” parelheiros” como também passear, namorar, vender quitutes e fazer apostas. A festa maior estava nos bailes. No passado, era em casa de moradia adaptada para o fandango. Mais tarde, com a construção de Sociedade ou Clube, as festas em geral passaram a estes apropriados estabelecimentos. As quermesses – festa popular junto ás capelas e igrejas, eram outra atração e ponto de reunião. Junto aos clubes havia cancha de bochas cujos participantes promoviam desafios e jogos com outras sociedades não só para competir mas principalmente para aumentar o circulo de amizade entre os participantes. A população mais jovem também praticava o futebol, porém sem camiseta de identificação nem chuteiras. Jogavam de pés descalços em gramado irregular – eram jogos de “pelada”. Na Sociedade Harmonia de Rincão dos Alves foi construída uma quadra de piso de cimento para a prática de futebol de salão, porém o atleta se obrigava a usar calçado – o tênis. Também foi construída uma cancha de bochas, inicialmente em piso de chão batido. Alguns anos depois, passou a piso sintético. Os bochófilos se reuniam para promover torneios entre sociedades, de modo que nos dias de disputa havia grande concentração de jogadores e visitantes, sem faltar, obviamente, o tradicional churrasco gordo para engraxar o bigode – de quem tivesse, é claro. O pessoal mais idoso se reunia em torno de uma mesa para jogar carta e tomar trago ou chimarrão. Ultimamente no Rincão dos Alves formou-se um grupo de aficionado no jogo de cartas, em diversas modalidades, os quais viajam longe para participar dessa saudável diversão. Os jogadores ficam tão concentrados em suas disputas que esquecem de se alimentar e de controlar o tempo. Quando se dão conta, o galo já está anunciando o novo dia – é madrugada ! A pescaria e o banho no Rio Jaguari, também fazem parte do rol de diversões dos Rinconenses, para quem gosta da arte, certamente ! Para aumentar as opções e modalidades de diversão, a Juventude dos anos 60 promoveu um encontro no Clube Harmonia em 2003, para recordar as aventuras, as farras, as folias e as festas daquela época. Também vem ocorrendo comemorações de aniversário de 80 anos e acima desta idade, como forma de celebrar a vida e aproximar os amigos e parentes que moram longe. Outros meios de diversão do passado eram Baile de Retorno dos carreteiros, as festas de surpresa, as festas populares, as galinhadas, as domingueiras, as matinês, as distinções dos convidados, as homenagens, as comemorações. Nestes eventos não faltavam os penetras, os abusados, os encrenqueiros, os brigões, os valentões, os arruaceiros, os faroleiros, os perturbadores de baile, a turma do deixa disso, os trapaceiros, os caloteiros, tudo era farra. Festas populares junto às capelas, igrejas, sociedades, sob a coordenação dos festeiros, tinham intenção arrecadatória que, aliada ao prazer de trabalhar pela comunidade, gerava recursos para a melhoria de novos ambientes de lazer e atividades sociais.


As Galinhadas


      Quando alguém da localidade fazia aniversário, era comum fazer um arroz com galinha, mas as galinhas eram do próprio aniversariante sem que ele soubesse. No dia do acontecimento, um grupo ousado e corajoso, invadia o galinheiro e fazia a retirada das penosas para o jantar baile, chamado “SURPRESA”(solpresa). Fazia a batida na casa do dono ao anoitecer e logo iam chegando os intrusos com as galinhas prontas para colocar na panela. O arroz, a salada, sobremesa, a bebida tudo era conseguido com os organizadores da festa. Ninguém podia reclamar da devassa no galinheiro – tinha que engolir sorrindo em nome de expressão como: “O bom cabrito não berra” ou “Pimenta nos olhos dos outros é colírio nos seus”

VI - SAÚDE E DOENÇAS

SAÚDE E DOENÇAS


  Devido à ausência de médicos na localidade e vizinhança, os cuidados da saúde e tratamento de doenças ficavam ao encargo de curandeiros e para-médicos formados pela faculdade da experiência e da necessidade.
Serviço De Saúde
 
Sem médico na região, o curandeiro era o principal orientador da medicina campeira. Sr Lauro Vargas, mulato, detinha o conhecimento do uso de ervas para os diferentes males do corpo. Ele e outros sempre tentavam a melhora do paciente e aplicavam os primeiros socorros antes da difícil chegada de um médico na localidade. Predominava também a farmácia homeopática na qual a maioria de sua gente acreditava. Todos já sabiam previamente a receita para cada tipo de doença.
As Parteiras e as Parturientes

Dona Damiana Flores, casada com José Machado de Oliveira, teve destaque na quantidade e qualidade de serviços prestados como parteira no Rincão dos Alves. A maioria das pessoas da localidade foi atendida por ela. Raros casos eram atendidos por profissionais de medicina na cidade, o que só veio acontecer a partir de 1985 em diante, já em caráter definitivo, pondo fim ao serviço das parteiras. A equipe de atendimento a parturiente era constituída de uma parteira chefe e uma ajudante. Dona Nena Correa(Filha do Funcho) era ajudante da parteira Damiana Flores. O primeiro sinal de um novo nascimento ocorria quando se encontrava na estrada D. Damiana acompanhada de pessoas amigas ou parentes da parturiente. Ao longe, quem via D. Damiana passar, já se fazia cochichos – quem vai ganhar nenem por aí !!! Como em toda atividade de saúde há risco de transtornos, nessa atividade havia também riscos de morte. Foi o que aconteceu, não se sabem em mãos de que parteira, a Sra Luiza Saggin, casada com Angelo Boff, teve um parto difícil. O estado de saúde da parturiente era grave e fugia da capacidade técnica da Parteira que se revelou incapaz daquele procedimento médico. Quando levada em carro de bois para a cidade, para ser atendida por médico, faleceu no caminho junto com a criança ainda no ventre da mãe. Havia também uma Sra de origem alemã, moradora do lado direito do Rio Jaguari, família Addler, nascida na Alemanha, com curso de enfermagem e era habilitada a fazer partos e outras atividades de saúde. Muitas vezes foi requisitada por moradores do Rincão dos Alves para atendimentos mais complexos. Porém, devido a costumes próprios de relacionamento racial, a integração de solidariedade não era tão aberta como se desejava.
Febre Espanhola e Tifóide

Em 1928 e 1929 a Febre Espanhola foi arrasadora no Rincão dos Alves. A família do Sr. Álvaro Ventura de Oliveira, 6 dos seus 11 filhos foram dizimados pela febre. Pessoas que vinham prestar socorro eram acometidas pelo mal da febre e acabavam sendo sua vítima fatal. O Sr. Cândido Maciel, pai do Sr. Pedro Maciel dos Santos, foi ajudar a fazer caixões para o sepultamento das vítimas e adquiriu a febre, vindo a falecer dois dias depois. Morria tanta gente pela febre que tiveram de fazer um cemitério particular na propriedade do Sr. Álvaro V. de Oliveira, o qual existe até hoje. Neste mesmo cemitério foi sepultado, em outubro de 1991, mais um de seus filhos, falecido não de febre, mas com arma de fogo – Mário Flores de Oliveira. Em 1930 ocorreu a contaminação pela Febre Tifóide, atingindo grande parte da população, quando faleceram 6 pessoas e aniquilando a todos os acometidos pela doença. O remédio usado na época era de plantas medicinais e banho frio(pano enrolado na cabeça e no corpo) para baixar a febre. O médico da época era o Dr. Alvino Sesti que tinha de viajar muitos KM até chegar ao local dos doentes. Na sua ausência atendia o curandeiro Sr. Lauro Vargas e também o Sr. Norberto Soares.


Os Males da Época

Não só a região de Rincão dos Alves teve acentuada incidência de doenças contagiosas, mas as pessoas que viveram o terror dos surtos dessas doenças achavam que o local foi um dos mais sacrificados. Qual dessas pessoas aborda o terror da doença sem se emocionar ? As doenças que mais incomodavam a população eram: - Febre tifóide, causadora de febre alta que desafiava os curandeiros e os conhecedores da medicina campeira, os quais adotavam medidas paliativas no enfrentamento do mal. Embebiam panos atoalhados em água fria para envolver o paciente portador da febre. Todos temiam ultrapassar os limites de temperatura que causavam convulsão. Uma das formas caseiras de prevenir a doença, dentro da crendice popular, era espalhar alho e cebola debaixo das camas e locais úmidos, obrigando os ocupantes a suportar o cheiro picante destes bulbos. Uma das atingidas pela doença foi Pedro Machado que Virginia, sua mãe, ficou magra de tanto se envolver com o filho acometido desse mal. Todo corpo era enrolado em pano embebido com água fria numa sequencia de troca até baixar a febre. Depois de algum tempo a febre retornava e o paciente voltava a se agitar, exigindo nova intervenção de troca de panos umedecidos. - A febre ou Gripe Espanhola – era também o terror da redondeza. Caracterizava por diarréia e febre alta que levava pavor às famílias quando um de seus membro era acometido do mal. Além da febre alta e deixar o paciente abatido, o mal era demasiadamente contagioso. Esse tema é abordado numa das seções deste trabalho, onde é citado exemplos de pessoas que vinham confeccionar o caixão de sepultamento e faleceram no local, devido ao contágio. - Tuberculose ou tuberculose pulmonar – tinha o pulmão como porta de entrada e sede da doença. O portador do mal tinha respiração ofegante semelhante ao alérgico de asma que se acentuava tanto que deixavam os acompanhantes em estado de desespero. Costumava-se dizer que a tuberculose se originava de uma gripe mal curada. O doente ficava minguado, seco, tísico, franzino, por isso ganhou vários nomes populares: delicada, doença do peito, doença ruim, fininha, fraqueza do peito, magra, magrinha, mal de secar. Nos anos 1948 a 1950 o governo federal investiu pesado contra esse mal fornecendo uma vacina chamada BCG, constituída de um líquido leitoso em tubo de vidro e tampa com núcleo de borracha e bordas reviradas, mantida em temperatura baixa. A campanha de vacinação era feita por equipe de médicos e enfermeiros que se deslocavam num tipo de ônibus chamado “CARRO BRANCO”. Visitavam as escolas e ministravam a vacina e, com isso o mal foi definhando até sua extinção, mas nessa trajetória deixou milhares de vítimas. Quem eram as vítimas da tuberculose ? Eram aquelas pessoas que se descuidavam da saúde, deixando de se alimentar, excesso de tabaco – cachimbo, charuto e cigarro, excesso de álcool –bebida que inibe a alimentação. Um exemplo: Um moço do Rincão foi procurar trabalho em Porto Alegre em 1940 e passou a fumar muito e freqüentar bares, alternando um misto de cigarro com bebida, além de noitadas de orgia. Não deu outra..- ficou tuberculoso. Foi hospedeiro da doença, tendo que retornar á sua terra em busca de cura. Teve que ser isolado da família e contratada uma pessoa para ministrar remédios e comida, pois ninguém queria se arriscar em ser contaminado pela doença. Até hoje ainda existe o túmulo da vítima citada no Cemitério da “Estância”, um dos poucos que se mantém de pé. O desespero tomava conta de portadores do mal que acabava servindo de auto cobaia de produtos estranhos. Houve caso de uma mulher que queria antecipar a morte e passou a ingerir querosene durante certo período e acabou vencendo a doença. Porém tal aventura não serviu de cura para outros que tentaram a arriscada proeza. - Pontada de Pneumonia – também era extensão de uma gripe mal tratada, causadora de febre alta que também vitimou inúmeras pessoas da comunidade, como aconteceu com Adélia Simi de Oliveira, primogênita de Marcírio Machado, assunto já abordado noutra seção. - Outros males também deixaram sua marca na localidade como Câncer de Mamas, Câncer de Útero, Mal de Chagas(transmitida pelo barbeiro), gripes e outras. - Doenças neurológicas – havia sim. A mais comum era o doente se retrair, se isolar e evitar contato com outras pessoas, mesmo da família. Dizia-se que estava “abichornado” ou se transformava em bicho. Era a doença depressiva com outro nome. - Síndrome de Down , também conhecido por mongolismo, não teve espaço na localidade. Não se tem comprovação científica da razão de sua inexistência na região, mas supõe-se que tenha origem na diversificação das origens do seu povo, evitando a repetição prolongada de casamentos entre pessoas da mesma família. - Bócio ou Papo ou Papeira – Chamava à atenção o grande número de pessoas portadoras do bócio, cartilagem que se formava na base do pescoço, resultante da insuficiência de iodo, o que causava constrangimento, incômodo nos movimentos, além do prejuízo visual. Hoje não mais existe tal incômodo. - Meningite – Doença que amargou a vida das crianças da época até o aparecimento da vacina anti-pólio. Os sintomas eram dor na nuca e febre alta, necessitando de compressas com água bem fria para baixar a temperatura. Neusa Machado de Oliveira, filha de Antonio e Doralina foi vítima de meningite aos 10 meses de idade(abril de 1944), tendo sido já desenganada pelos curandeiros. Antonio pediu ao irmão Olindo(Olinto) que fosse buscar o médico na cidade. Chovia muito durante à tarde e por isso Olindo saiu à noite, em uma aranha tipo charrete, na escuridão, iluminada pelos relâmpagos. Enquanto isso Idalina(Tia) e Mário Feliciani(amigo da família) aplicavam compressas frias na cabeça e água morna da cintura para baixo. Depois de algum tempo, Neusa adormeceu em profundo sono e sua mãe imaginava que estava prestes a morrer e fez uma promessa de só cortar o cabelo da menina após 7 anos de idade em uma” Festa de Inocente”. Olindo retornou no outro dia acompanhado do médico, Dr. Alvino Sesti. Antes de chegar, cerca de 1 km da casa, o arroio transbordava devido a chuva intensa e não puderam atravessá-lo. Tiveram então de passar na pinguela e ir a pé até a casa da doente. Chegando lá o médico constatou que a febre havia sido debelada. Disse que dormiria a cerca de 3 dias seguidos, mas estava fora de perigo. Deixou alguns medicamentos para continuar o tratamento e por isso foi salva. A promessa foi cumprida por Dona Doralina e as crianças fizeram a festa com o grito de aleluia !. - 0 Colite - Doença infecciosa que atacava o colo(parte do intestino grosso entre o íleo e o reto) e produzia cólica ou dor de barriga ou de intestino. - Varicela – Este mal da pele aterrorizava a todos, principalmente os jovens, que viam no rosto das pessoas uma seqüela irreparável, tirando a sua beleza física para sempre. Havia também outras doenças também de natureza virótica , tendo bolhas de água como a Varíola e Sarampo, porém não com efeitos tão danosos à pele quanto a varicela. Uma das vítimas da doença foi Gerônima, esposa de Francisco de Oliveira Machado. - Parasita – Era muito comum a invasão da Ascaris Lumbricoide no intestino – a lombriga ou bicha, tendo como hospedeiro preferido - o intestino das crianças até a idade adolescente. Mas o tratamento com vermífugos combatia de imediato tais incômodos. Por outro lado, a batalha continuava contra outros parasitas como pulgas, piolhos, bicho-de-pé, percevejos, sarna(mais em animais) e muquiranas que invadiam as casas com paredes de barro, camas com pouca higiene e descuido da limpeza em geral da residência. A solução da praga do piolho era raspar a cabeça das crianças. A sarna combatia-se com sabão mata-cura. A doença de Chagas, em data mais recente, combatia-se com ação da vigilância sanitária através de dedetização. O percevejo combatia-se com “escaldação” isto é, despejar água quente nas juntas das camas, principalmente de madeira.
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V - ATIVIDADE ECONÔMICA

Fontes de Riqueza

      A localidade de Rincão dos Alves passou por diferentes fontes econômicas ao longo de sua história. Iniciou na pecuária e, com a chegada dos imigrantes alemães e italianos, houve um progresso na agricultura familiar. Houve um período de coincidência da necessidade do desmatamento para a construção das lavouras, ao mesmo tempo a necessidade de extração de madeira para a estrada de ferro que se construía na região, entre Jaguari e Santiago. Era grande a produção de dormentes para o assentamento dos trilhos da estrada de ferro. A margem esquerda do Rio Jaguari apresentava grande extensão de área de várzea própria para o cultivo do arroz irrigado, através de bombeamento da água desse Rio que começou usando energia a vapor, óleo diesel e por último, elétrica. O plantio de arroz tornou uma cultura de maior expressão na localidade, seguida da produção do soja, milho, fumo em estufa(antigamente predominava fumo em corda) e outras culturas diversificadas. Ainda continua grande a produção de gado de corte, de modo que poucos moradores não dispõe de uma criação de gado, porco, galinha e alguma ovelha. A maioria aposta, e com bom retorno, nessa criação de baixo custo e disponível a qualquer instante. Nenhum produtor rural da região ainda ousou a produzir frango ou suino em escala maior de produção, talvez por não se ajustar ao estilo dos seus investidores. Na área industrial, excluindo a familiar como produção de queijo, embutidos(lingüiça, salame, copa, morcilha ou morcela), operou por alguns anos uma fábrica de biscoitos, estilo caseiro, de propriedade de Elton Machado de Oliveira que mantinha um quadro de pessoal efetivo, legalmente contratado, passando a fornecer produtos em Santiago, Jaguari,São Vicente, São Pedro do Sul, Santa Maria, Cacequi. Durante mais de 5 anos funcionou bem, mas devido às exigências fiscais, sanitárias e contratos apertados com revendedores, o negócio passou a ter baixo retorno em confronto com o grande volume de serviço exigido. A produção de mel tinha seu espaço, atraindo a entrada de veículos a procura deste alimento natural. A maioria dos moradores mantinha uma caixa de abelha no quintal para reforçar o orçamento da família e as refeições diárias. Na área comercial funcionaram os Bolichos de Campanha já abordados noutra seção, destacando a revenda de Secos & Molhados da época, em cujas casas havia um sistema de troca com entrada de grãos e retirada de produtos acabados ou elaborados. Outro fator de desenvolvimento repousava na movimentação de cargas pelos carreteiros que faziam circular mercadorias de todos os tipos, reforçando a entrada de moeda na localidade. Moedas como: Reis ($), Cruzeiro(CR$), Cruzado(Cz$), Cruzados Novos(NCz$), URV, Real(R$).
João Simi – O Oleiro


      João Simi trouxe na bagagem imigratória da Itália a profissão de oleiro- fabricação de tijolos para a construção civil. Estabeleceu-se, após receber a porção de terra na L-15, na zona alagadiça de Jaguari,RS,. nas proximidades da Ponte Seca, onde montou sua olaria produzindo peças de tijolo para obras na cidade e interior do município ainda não emancipado de General Vargas, hoje São Vicente do Sul. Na época era um grande empresário na área industrial que atendia a demanda dos construtores, de modo que a metade das casas de alvenaria de Jaguari, nos anos 20 e 30, tinha tijolos produzidos por sua olaria. Quando suas netas, ainda meninas, vinham do interior do município para visitá-lo, achavam divertido brincar sobre as pilhas de tijolos sem se dar conta do estrago que causavam. Seu Simmi, enrugava a testa e esbravejava : retirem estas “putinas” de minha olaria e mandem brincar noutro lugar... Quase toda a família se dedicava à produção de tijolos, desde seu pai até os filhos. André Simi era o que detinha maior volume de produção entre os demais produtores deste item da construção civil.
Casas Comerciais


      Nas proximidades da Escola João Alves Machado havia um Bolichão de Campanha iniciado por Santo Picolo onde trabalhou por mais de 15 anos. Depois vendeu ao Sr. Vergilio Sfreddo, o qual ficou ali cerca de 10 anos. Este vendeu para Wilson Schopf que comercializou ali cerca de 5 anos. Vendou, posteriormente, a seu irmão Arnaldo Schopf que também ficou por mais 5 anos. Por fim veio morar no local Dona Joana e sua familia onde tentou reiniciar a venda, porém a facilidade de contato com o comércio na cidade, tornou o negócio pouco rentável ou inviável. Ficou apenas como moradia. Ao lado da Igreja São João Evangelista havia o Bolichão do Sr. Angelo Tamiosso iniciado lá pelo idos de 1923. Ali trabalhou até 1954, quando foi vendido para Armando Feliciani(Filho de Lourenço Feliciani), o qual ficou até 1965 quando se transferiu para a cidade de Jaguari, vendendo a propriedade e a existência do Bolichão ao Sr. Nilson José Schopf, o qual trabalhou até se aposentar em 1998, encerrando definitivamente o comércio naquele local. Em 1920 Marcirio Machado abriu um bolichão de Campanha na sua moradia onde hoje é a residência de Dona Josefina Sachett Machado, viúva de Olindo Machado(Olinto) Ali comercializava diversos produtos – Secos e Molhados. O movimento aumentou ainda mais com a vinda do Pelotão da Carta Geral do Governo Federal que acampou nas proximidades do bolichão. Dona Virginia Simmi , esposa de Marcirio, montou uma padaria para suprir os recém chegados clientes da Carta Geral. O negócio prosperou durante algum tempo, mas Sr. Marcirio se cansou da atividade comercial e vendeu ao Sr. José Gattiboni que já havia vendido sua casa comercial ao Sr. LiLi, no encontro das estradas do Cerrito com a Várzea. Neste mesmo local onde José Gattiboni exercia o comércio foi vendido ao Sr. Lili e, este, mais tarde vendeu ao Sr. Angelo Taschetto, pai de Antonia, Lidia, etc. O Sr. José Gattiboni, ao comprar o Bolichão do Sr. Marcicio, se estabeleceu logo à frente da casa de Marcírio, lado de cima da estrada, onde passou a comercializar também madeira. Dali saíam as carretas carregadas com estes produtos em direção à São Gabriel, Cacequi, Livramento , Rosário e outras cidades.
Comércio Ambulante


      Os comerciantes de mala em punho – descendentes ou de origem Sirio-Libanês – eram denominados - turcos. Eram os mascateiros, ou mascates. Traziam roupas prontas, em tamanhos diversos e trocavam ou por moeda(vendiam) ou por produtos coloniais. Outros, não turcos, tiravam fotografia do casal dono da casa para reprodução á óleo e enfeitar a sala de visitas. Depois de algum tempo tais quadros - ou ressecava a tinta ou amolecia com a umidade do ar, tornando-se pastosa e pegajosa.
Atividade Agropastoril


      Atividade Pastoril foi essencial para caracterizar a economia do Rincão dos Alves, o que se pode comprovar pelo destaque de João Alves Machado em matéria publicada no Álbum Ilustrado do Partido Republicano Castilhista em 1930. A agricultura de destaque foi o plantio de arroz irrigado em vasta área à margem esquerda do Rio Jaguari, seguindo-se outras de cunho doméstico para o sustento próprio das famílias.
Extração de Madeira


      As matas abundantes e a natureza das espécies qualificavam os produtos extraídos e beneficiados no local, tais como dormentes para a estrada de ferro, peças de veículos de tração animal(carretas e carroças) e madeiramento para construção de casas em geral.
As Carreteadas I


      A população do Rincão dos Alves era um pouco flutuante na época das carreteadas lá pelos idos de 1939 e 1942. Saíam do local cerca de 20 a 30 carretas carregadas de produtos diversos, desde madeira em forma de dormente para a ferrovia, apetrechos de carretas e carroças até charque, embutidos, queijo, banha, mel e muitos produtos do local. Eram tracionadas por várias juntas de bois formando enormes filas e sulcando as estradas com o corte das rodas ferradas com chapa. A viagem durava cerca de 30 a 40 dias, dependendo dos lugares de destino das mercadorias. São Vicente, Cacequi, São Gabriel, Rosário do Sul, Livramento, Quaraí e outras eram os locais mais visitados. No retorno vinha produtos não existentes no Rincão como fazendas(roupas, tecidos), confecções em lã, tecido, roupas de algodão, utilidades domésticas, equipamentos de lavoura, etc. A chegada dos carreteiros era recebida com festa. Programavam bailes, reuniões dançantes, rodas de chimarrão, contos de causos e de aventuras da viagem, festas populares. Era o momento de desfazer a saudade e rever as pessoas amadas e de por os assuntos em dia. Assim era a vida dos carreteiros que os sobreviventes de hoje ainda lembram com certo saudosismo. Dentre os carreteiros estavam os Srs: Romário, Silvestrino, Inácio(o Amansador ou domador de boi), Seu filho Atalício(Ex-Pracinha da FEB na Itália), seu irmão de apelido Amarelo e outros(Fonte: Zeferino Machado(Neno)).    

IV - VOCAÇÃO ASSOCIATIVA

                                   Esporte Clube Harmonia


       Esporte Clube Harmonia A Sociedade Harmonia surgiu da necessidade dos rinconensesl em ter um ambiente com espaço físico suficiente para realização de Festas de congraçamento, comemoração de aniversário, festas de casamento e também atividades esportivas como bocha, cartas e outras modalidades lícitas. Antes da construção do Clube os eventos eram realizados em casa de família, onde cada morador, com casa com mais espaços, fazia a remoção de paredes e ajustava às necessidades do evento programado. Tal feito trazia inúmeros inconvenientes tais como modificação do ambiente familiar e depois do evento, recolocação no devido lugar de tudo que foi modificado, causando transtornos a quem cedia sua casa. Para chegar ao um consenso para construção, a população, liderada pelos componentes da 1ª Diretoria, formaram uma comissão de construção, a qual se reunia numa ramada, à sombra de “unhas de gato”, ao lado da igreja São João Evangelista. Elaborado o projeto e estabelecidos os quantitativos de materiais, resultou no orçamento geral e estimativo. Partiram, então, para o trabalho sob o lema: “mãos à obra” ! A madeira pesada e de acabamento veio da região catarinense de Chapecó-SC. Alguns caminhões de madeira atravessaram a fronteira gaucha no Passo do Go-Yo-En, tendo de enfrentar a rampa de acesso à ponte sobre o Rio Pelotas. Na 2ª viagem o Caminhão carregado de madeira ficou retido 3 dias tentando subir a rampa barrenta do lado gaúcho. O excesso de chuva tornava a estrada intransitável e sem aderência suficiente para vencer a lomba. Mesmo com pneus acorrentados, a solução não era outra senão aguardar a estrada enxugar. Na medida em que os materiais iam chegando, as equipes de trabalho faziam os mutirões, onde cada voluntário contribuía com seus recursos econômicos e profissionais, tudo comandado pelos carpinteiros Alcir Stangherlin, seu Pai e alguns colaboradores mais experientes. Eram eles que dominavam a arte da construção de casas de madeira na época. Os gastos eram muitos e nem todos podiam contribuir devido à desigualdade de poder aquisitivo de uma população heterogênea. Mesma assim, houve contribuição, ou com recursos em valores ou com mão de obra. Em fim, clube foi construído, ficando muito tempo sem pintura, porém sendo palco de muitos acontecimentos sociais e esportivos. Apesar da inauguração de fato ter ocorrido em 25/09/1960, o ato inaugural propriamente aconteceu em junho de 1962, com a presença do Deputado Estadual Elvio Jobim, Pai do ex-Ministro da Justiça Nelson Jobim, mais Dr. Francisco Solano Borges e mais seus assessores de Governo, bem como autoridades municipais. Na noite da inauguração, em uma noite muito fria, na parte frontal do Clube havia apenas um veículo automotor – o do Dep. Elvio Jobim. Os demais meios de transporte eram charretes, aranhas, carroças, carretas, cavalos que tomavam conta da estrada vizinha e pátio ao redor do clube. Convém destacar a inesperada visita das autoridades supra-referenciadas que tomou a todos de surpresa – agradável e oportuna, uma vez que o Deputado Estadual Elvio Jobim havia destinado cerca de CR$ 25.000,00(vinte e cinco mil cruzeiros) para ajudar na construção da Sociedade Harmonia de Rincão dos Alves. A organização e a condução dos atos inaugurais coube a Professora Alvenyr Sfreddo, como Diretoria Social da novel entidade. Não só montou o protocolo da sessão de abertura mas também participou da contratação do conjunto musical santiaguense que animou o bailei inaugural com gaita, pandeiro e violino. O Início solene aconteceu ao som de uma valsa, encantando a todos com o show do Violino que se destacava entre os instrumentos.(*) Durante a construção da sede surgiu uma discussão acirrada em torno do nome a ser dado ao Clube. Uns eram favoráveis ao nome de João Alves Machado e outros discordavam e apresentavam nomes diversos. Surgiu então um nome de aparente consenso – Clube Harmonia, mas não chegou a agradar a todos. Houve um grupo que radicalizou posição e fez um movimento para impedir acesso de membros de sua família às dependência do clube caso não colocasse o nome de João Alves Machado. Como prevaleceu o nome de Clube Harmonia, a outra parte cumpriu sua promessa e nunca pôs os pés no ambiente da sociedade. Com o decorrer dos anos, os portadores da idéia radical foram convocados para outros planos do patrão lá de riba e os descendentes aderiram ao convívio saudável da sociedade Harmonia. A partir de sua construção, o Clube passou a ser regido por Estatuto Social que diz, em seu Capitulo I, Da Organização. Art. 1º O ESPORTE CLUBE HARMONIA, fundado em 25 de setembro de 1960, na localidade de Rincão do Alves, 4º Distrito do Município de Jaguari, onde tem sua sede própria, é uma sociedade civil com personalidade jurídica distinta da dos seus associados, os quais não respondem subsidiariamente pelas obrigações por ela contraídas e sua duração é por tempo indeterminado. O ano social e administrativo começará e terminará sempre no dia 25 de setembro de cada ano. Art. 2º - A Sociedade é constituída de um número ilimitados de pessoas de ambos os sexos, sem distinção de crença religiosa, política ou nacionalidade. Art. 3º - A Sociedade representa-se judicial e extrajudicialmente pelo seu Presidente. CAPITULO II , Das finalidade. Art. 4º - A Sociedade propõe-se a criar em sua sede social, um ambiente de bem-estar, recreações e agradável convívio aos associados e suas famílias, proporcionando-lhes: confortos, recepções, danças e outras reuniões festivas, além de todos os jogos permitidos em lei, inclusive esportivos. Parágrafo 1º - Por família de sócio casado entende-se: a esposa e os filhos menores de 18 anos, as filhas solteiras e viúvas, quando vivam na dependência econômica do associado. Parágrafo 2º - Por família do sócio solteiro entende-se: os irmãos menores de 18 anos e as irmãs solteiras, quando órfãs e sob sua dependência econômica. Parágrafo 3º - Também fazem parte da família os filhos adotivos que vivam na dependência do associado, quando de bom conceito social. As discussões no clube sempre fizeram parte do cotidiano dos rinconenses. Observem este lance. Antes de contratar o conjunto musical da inauguração havia sido proposto Ireno Machado com a intenção de valorizar um músico de casa. Porém, devido ao processo de separação do casal, foi barrado em nome dos bons costumes do local. Ora, isso gerou desconforto entre seus familiares que, em protesto, não compareceram aos atos inaugurais, curtindo uma dor de ter cedido à sociedade parte do terreno, ajudado na sua construção e fornecido recursos diversos para a obra não parar. Outro impasse surgido no pós inauguração foi a barreira imposta pela diretoria executiva no ingresso de associados. Devido ao valor elevado da contribuição mensal de cada um, surgia o impedimento de pessoas humildes de ingressar na sociedade, de modo que, em bailes dava pena ver pessoas que só podiam olhar pela janela sem poder participar da festa. No decorrer do tempo, os conceitos foram mudando de modo que, atualmente, todos os moradores podem acessar ao clube sem distinção de qualquer natureza, mesmo econômica.





Galeria dos Presidentes do Esporte Clube Hamonia
Rincão dos Alves

    Esta página registra todos os associados do Clube Harmonia que exerceram o honroso cargo de Presidente desde sua fundação em 20 de junho de 1960 até 2012. Consta no Estatuto da entidade que o mandato do presidente é de 2 anos, podendo haver reeleição.

Periodo                           Nome do Presidente
1960-1962                      Santo Scalon Picolo/Alzira Machado
1962-1964                      José Verginio Sfreddo/ Angela Callegaro
1964-1966                      Mário Flores de Oliveira/Nair Machado de Oliveira
1966-1968                      Alberto Kraetzig/
1968-1970                      João Nick/Teresa Reiter
1970-1972                      Nilson José Schopf/Annair Sfreddo(Nair)
1972-1974                      Ivo Dela Justina/
1974-1976                     Teodoro Schopf/
1976-1978                     Domingos Anesi/Luiza Roth
1978-1980                     João Reiter/Iracema Fernandes
1980-1982                     Lindomar Brauner/Lélia Chiochetta(Leda)
1982-1984                     Arnaldo Schopf/Lourdes Vielmo
1984-1986                   José Oliveira de Oliveira/Delci Oliveira/Oliveira(Chica)
1986-1988                     Elio Snovareski/Celina Mac.
1988-1990                    Roberto Brauner/Helena Pauleski
1990-1992                     Silvio Bacin/Lourdes Tadiello
1992-1994                    João Reiter/Iracema Fernandes
1994-1996                  José Oliveira de Oliveira/Delci Oliveira/Oliveira(Chica)
1996-1998                    Domingos Anesi/Luiza Roth
1998-2000                    Silvio Bacin/Lourdes Tadiello
2000-2002                    José Vicente Machado de Oliveira/
2002-2004                    Domingos Anesi/Luiza Roth
2004-2006                  José Oliveira de Oliveira/Delci Oliveira/Oliveira(Chica) 6-2008                        Kleber Oliveira de Oliveira/Marzane G. Machado
2008-2010                   Cedenir Schopf/ Andréia Nardo dos Santos
2010-2012                   José Néri Chaves Gampert/Josane Gonçalves

  1960-1962                  1962-1964                    1964-1966
                               Santo Scalon Picolo     Virgilio Sfreddo        Mario Flores Oliveira
                         

1966-1968         1968-1970                       1970-1972 
Alberto Kraetzig                João Nick          Nilson José Schopf


                                1972-1974                  1974-1976              1976-1978 
                             Ivo Dela Justina        Teodoro Schopf             Domingos Anese

                                        1978-1980                   1980-1982                   1982-1984
                                  João Reuter                  Lindomar Brauner          Arnaldo Schopf

                                 1984-1986               1986-1988                     1988-1990
                            Roberto Brauner         Elio Snovareski     José Oliveira de Oliveira

                                   1990-1992                   1992-1994                     1994-1996
                                  Silvio Baccin                 João Reuter             José Oliveira de Oliveira

                                        1996-1998               1998-2000                 1976-1978
                               Domings A. Anese         Silvio Baccin                 Domingos Ane

                                   2002-2004                      2004-2006                    2006-2008
                        José Vicente Machado    José Oliveira de Oliveira      Cleber Oliveira de Oliveira




              2008-2010                                           2010-2012                               
           Cedenir Schopf                                Néri José Chaves Gampert               
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                                           Sociedade Restrita


      Havia um grupo de moradores de origem alemã, lado direito do Rio Jaguari, constituído pelas famílias Kraetzig, Ludwig, Krahe, Schopf, Gampert, Doeller, Edder, que mantinha um clube de “Tiro ao Alvo”, o qual congregava somente pessoas de origem alemã, sendo vedado a outras descendências. Porém, pelo grau de influência de João Alves Machado, as filhas de Marcirio e algumas outras moças, passaram a ter o privilégio de receber convite para freqüentar tal clube que promovia também reuniões dançantes, bailes e festas de família.

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